Drummondiano
Deito-me no leito das favelas.
Descanso o corpo nos sofás
das mansões.
Sim, Carlos!
O fraterno amor tem valimento
na conjugação dos verbos e na
boca silenciosa dos homens.
Acima da razão, o amor é:
rubi, esmeralda, diamante;
Nos seus contratos,
só encontramos palavras
de sonho e vento.
Entre tantas frases,
somamos mais esta:
O amor é perfume
e goma nos dentes.
Renovam-se as folhas.
Giram no espaço
as rodas do mundo.
Setembro
Setembro nasceu.
As margens frias,
Nervosas e plácidas,
Unem-se as águas
dos rios e às folhas.
Homens enfeitaram-se
pondo nos cabelos
Pétalas de margaridas.
Galgando alturas,
Mulheres valsaram
Na luz das estrelas
Sonhando detê-las
Nas linhas das mãos.
Ah, setembro!
Nenhuma gota de lágrima
Caiu dos meus olhos
Molhando poemas.
Setembro.
Semente de todas as frutas,
Pétala de todas as rosas,
Símbolo de todas as lutas.
O mar flutua nas mãos.
na passagem dos dias.
Reflections
Minha alma mergulha
Além dos meus olhos.
Soletro palavras...
Fecho os parágrafos
Da história humana.
Recolho-me.
Ouço sermões e parábolas.
Tudo é vago e vazio...
Falta-me coragem
para dizer do amor.
Encontro no caminho
Escudos secretos e
solto o meu grito:
Amo! Amo! Amo!
E agora?
O que dizer quando
Demônios e deuses,
namoram nas ruas?
Pronúncia
Pronunciei teu nome
Com todas as forças.
Fiz ofertas ao deus do vento
O impulso da minha paixão.
Todas as sílabas os tufões
Deixaram nas garras dos tigres,
na boca dos leões.
Pronunciei teu nome.
Os lábios estavam trêmulos,
Sopravam a saudade
Do calor de abraços
E dos sonetos inspirados
Nos passos errantes.
Adormeci...
Nos meus sonhos fugias
E sentias palavras
ferindo a alma.
Teus pecados
perderam as cores
em pedaços jogados
no chão.
Eu despertei.
Pedaços
Um caco de vidro na mesa,
um beijo ferindo os lábios.
Agoniza um corpo cortado
a perder sangue e sal.
A dor é marcada num grito:
- Sou teu primeiro amor.
A única flor nos teus olhos.
Foi a inspiração
do primeiro verso,
depois do abraço.
A sombra e a pedra,
o calo nos pés.
O corpo em pedaços
perdia-se nos passos,
nas cores e ritmos
das festas nos quintais.
Mergulho
Mergulhar
no fundo
poço
ver o rio
derramado
no mar.
Mergulhar
no pranto
da multidão.
Ver claridade
na escuro
da solidão.
Ouvir o som
das águas
sem réguas
tingir a alma
de rosa/azul.
Ouvir a música
de cada dia e
flutuar na mão
dos homens.
A Minha Verdade
A minha verdade é absoluta.
Outras verdades cabem nas meias
compradas para ir à missa.
À distância, palavras seguem
a cauda dos cometas.
Mergulho poemas dispersos
na chuva e na poeira das ruas.
Fixo a boca nos rótulos
das latas de tinta, sopro
centenas nas páginas do mundo.
Procuro no espaço
sermões e discursos.
Deus & filhos dormem lá em casa.
Espanto mosquitos com palha e seda.
A minha verdade soa no infinito.
Ouve atentos, os santos mais altos.